Dispersão de Fundamentos no Supremo Tribunal Federal / Scattered Arguments in Federal Supreme Court

Autores

  • Fábio Carvalho Leite
  • Marcelo Santini Brando

DOI:

https://doi.org/10.17808/des.48.738

Palavras-chave:

Brazilian Federal Supreme Court, Judicial review, Decision-making process, Scattered arguments.

Resumo

Resumo: O trabalho analisa, em duas partes, o fenômeno conhecido por dispersão de fundamentos, prática decisória que por vezes marca o Supremo Tribunal Federal (STF) no controle de constitucionalidade. A primeira parte é descritiva e sugere que a dispersão de fundamentos é fenômeno que ocorre pela presença necessária da regra de maioria decisória simples (RMDS) associada à presença contingente do princípio da causa de pedir aberta e da indeterminação relativa do texto constitucional. A segunda parte é normativa e analisa criticamente os problemas resultantes da adoção da RMDS. Partindo-se do tradicional debate sobre a legitimidade do controle de constitucionalidade, porém não se alinhando a um modelo normativo em particular, o trabalho põe em xeque a proximidade do processo decisório do STF com a ideia de "resposta certa", aborda a dificuldade de se formar jurisprudência capaz de uniformizar o tratamento de casos a respeito de um assunto e questiona a desconsideração da presunção de constitucionalidade nos casos difíceis do direito em que se verifiquem desacordos morais razoáveis. Por fim, a confiabilidade de intuições morais invocadas pelos ministros no processo decisório do STF é questionada a partir das ciências cognitivas e da psicologia moral.

Palavras-chave: Supremo Tribunal Federal; Controle de constitucionalidade; Processo decisório; Dispersão de fundamentos.

Abstract: The work analyzes, in two parts, a phenomenon known as argument scatter, a decision-making practice that sometimes characterizes judicial review in the Brazilian Supreme Court (STF). The first part is descriptive, and suggests that argument scatter occurs in the necessary presence of a simple majority decision-making rule (SMDMR), associated to the contingent presence of the open cause of action principle and of the relative indeterminacy of constitutional text. The second part is normative, and critically analyzes the problems that arise from the SMDMR. Taking the traditional debate about the legitimacy of judicial review as a starting point, while avoiding commitment to any particular normative model, this work calls into question the proximity of the Supreme Court's decision-making process with the idea of a "right answer", addresses the difficulty of generating clear precedents, and challenges the disregard of the presumption of constitutionality in hard cases in the law where reasonable moral disagreements emerge. Finally, on the basis of research in the cognitive sciences and moral psychology, it challenges the reliability of the moral intuitions Supreme Court Justices invoke in the decision-making process.

Keywords: Brazilian Federal Supreme Court; Judicial review; Decision-making process; Scattered arguments.

Referências

BARROSO, Luís Roberto. (2008). Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo: Saraiva, 6ª edição, 4ª tiragem.

BRANDO, Marcelo Santini. (2013). Como decidem os juízes? Uma investigação da teoria realista da decisão judicial a partir das contribuições das ciências cognitivas e da psicologia moral. Rio de Janeiro: PUC-Rio. Dissertação de Mestrado. Departamento de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

BONAVIDES, Paulo. (2004). Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 14ª edição.

CUSHMAN, Fiery; YOUNG, Liane; e GREENE, Joshua D. (2010). "Multi-system moral psychology" em The Moral Psychology Handbook, editado por DORIS, John M. et al. Oxford: Oxford University Press, pp. 47-71.

DAMASIO, Antonio. (2005). The neurobiological grounding of human values em Neurobiology of human values, editado por CHANGEUX, J.-P.; DAMASIO, A. R.; SINGER, W.; e CHRISTEN, Y. Berlin: Springer.

__________________. (2006). Descartes' error: emotion, reason and the human brain. Revised edition with a new preface. London: Vintage Books.

DESCARTES, René. (2006). A discourse on the method of correctly conducting one's reason and seeking truth in the sciences. Translated with an introduction and notes by Ian Maclean. Oxford: Oxford University Press.

ELY, John Hart. (1980/2010). Democracia e desconfiança: uma teoria do controle judicial de constitucionalidade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.

EVANS, Jonathan St. B.T. (2003). In two minds: dual-process accounts of reasoning. TRENDS in Cognitive Sciences, Vol.7, No.10, October 2003.

FONTAINHA, Fernando de Castro; SILVA, Angela Moreira Domingues da; ALMEIDA, Fábio Ferraz de. (Orgs.) (2015). História oral do Supremo (1988-2013), v.4: Cezar Peluso. Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas. - Rio de Janeiro : Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, 2015.

FONTAINHA, Fernando de Castro; SILVA, Angela Moreira Domingues da; NUÑEZ, Izabel Saenger (Orgs.). (2015). História oral do Supremo (1988-2013), v.3: Sepúlveda Pertence. Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas. - Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, 2015.

FONTAINHA, Fernando de Castro; MATTOS Marco Aurélio Vannucchi Leme de; SATO, Leonardo Seiichi Sasada (Orgs.). (2015). História oral do Supremo (1988-2013), v.5: Sydney Sanches. Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas. - Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, 2015.

G1. (2012). Lewandowski e Gilmar Mendes trocam críticas em sessão do STF. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/10/lewandowski-e-gilmar-mendes-trocam-criticas-em-sessao-do-stf.html - Acesso em 17/10/2012.

GAZZANIGA, Michael S. (1985). The social brain: discovering the networks of the mind. New York: Basic Books, Inc., Publishers.

GRECO, Leonardo. (2005). Novas súmulas do STF e alguns reflexos sobre o mandado de segurança em Estudos de Direito Processual. Campos dos Goytacazes: Ed. Faculdade de Direito de Campos, pp. 401-421.

HAHN, Ulrike; e HARRIS, Adam J. L. (2014). What Does It Mean to be Biased: Motivated Reasoning and Rationality. DOI: 10.1016/B978-0-12-800283-4.00001-0 In book: The Psychology of Learning and Motivation, Vol. 61, pp.41-102

HAIDT, Jonathan. (2001). The emotional dog and its rational tail: a social intuitionist approach to moral judgment. Psychological Review, Vol. 108. No. 4, 814-834.

HAIDT, Jonathan; e JOSEPH, Craig. (2004) Intuitive ethics: how innately prepared intuitions generate culturally variable virtues. Daedalus, Fall 2004, Vol. 133, No. 4 , Pages 55-66. (doi: 10.1162/0011526042365555)

HAIDT, Jonathan; e BJORKLUND, Fredrik. (2008). "Social Intuitionists Answer Six Questions about Moral Psychology" em SINNOTT-ARMSTRONG, Walter (ed.) Moral psychology. Cambridge: The MIT Press, pp. 181-217.

HAIDT, Jonathan. (2012). The righteous mind: why good people are devided by politics and religion. Pantheom Books: New York.

KAHNEMAN, Daniel. (2011). Thinking, fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux.

KLAFKE, Guilherme Forma. (2010). Vícios no processo decisório do Supremo Tribunal Federal. Monografia apresentada à Escola de Formação da Sociedade Brasileira de Direito Público - SBDP. Orientador: Pedro Henrique Motta Pinto.

KRUEGER, Joachim I.; FUNDER, David C. (2004). Towards a balanced social psychology: Causes, consequences, and cures for the problem-seeking approach to social behavior and cognition. Behavioral and Brain Sciences, 27, pp 313-327 doi:10.1017/S0140525X04000081

KUNDA, Ziva. (1990). The case for motivated reasoning. Psychological Bulletin, Vol 108(3), Nov 1990, 480-498.

KUNDA, Ziva. (1999). Social cognition: making sense of people. Cambridge, MA: The MIT Press.

LEITE, Fábio Carvalho. (2012). Pelo fim da cláusula de reserva de plenário. Direito, Estado e Sociedade (Impresso), v. 40, p. 5, 2012.

____________________. (2014). Ação Declaratória de Constitucionalidade: expectativa, realidade e algumas propostas. Sequência (UFSC), v. 35, p. 109-132.

MELLO, Marco Aurélio Mendes de Farias. (2010). Discurso do Ministro Marco Aurélio por ocasião da homenagem pelos seus 20 anos de Supremo Tribunal Federal. Consultor Jurídico, 6 jul. 2010, Notícias, A12. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2010-jul-06/idealizo-solucao-justa-depois-vou-ar-normas-marco-aurelio>. Acesso em: 20 nov. 2011.

MENDES, Conrado Hübner. (2009a). Is it All About the Last Word? Deliberative Separation of Powers 1 (July 1, 2009). Legisprudence, Vol. 3, No. 1, pp. 69-110, 2009. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1911822 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1911822

_______________________. (2009b). Not the Last Word, But Dialogue - Deliberative Separation of Powers 2 (November 1, 2009). Legisprudence, Vol. 3, No. 2, pp. 191-246, 2009. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1911835 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1911835

_______________________. (2011). Neither Dialogue Nor Last Word - Deliberative Separation of Powers 3 (June 1, 2011). Legisprudence, Vol. 5, No. 1, pp. 1-40, 2011. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1911852 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1911852

_______________________. (2012). Onze ilhas. Artigo publicado em Folha de São Paulo. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0102201008.htm - acessado em 11/07/2012.

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. (2008). Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2ª edição.

MILLER, Alexander. (2003). An introduction to contemporary metaethics. Oxford: Blackwell Publishing Ltd.

MERCIER, Hugo. (2011). What good is moral reasoning? Mind & Society, December 2011, Volume 10, Issue 2, pp 131-148.

RODRIGUEZ, José Rodrigo. (2013). Como decidem as cortes? Para uma crítica do direito (brasileiro). Rio de Janeiro: Editora FGV.

SCHAUER, Frederick. (1991). Playing by the Rules: A Philosophical Examination of Rule-Based Decision-Making in Law and in Life. Oxford: Oxford University Press.

___________________. (2009). Thinking like a lawyer: a new introduction to legal reasoning. Cambridge: Harvard University Press.

SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; YOUNG, Liane; e CUSHMAN, Fiery. (2010). "Moral Intuitions" em The Moral Psychology Handbook, editado por DORIS, John M. et al. Oxford: Oxford University Press, pp. 246-272.

STANOVICH, Keith E. (2010). Decision Making and Rationality in the Modern World (Fundamentals in Cognition). New York: Oxford University Press.

STRUCHINER, Noel. (2002). Direito e linguagem: uma análise da textura aberta da linguagem e sua aplicação ao direito. Rio de Janeiro: Renovar.

________________. (2005). Para falar de regras: o positivismo conceitual como cenário para uma investigação filosófica acerca dos casos difíceis do direito. Rio de Janeiro: PUC-Rio. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Filosofia, Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

________________. (2011). Indeterminação e Objetividade. Quando o direito diz o que não queremos ouvir. In: Macedo, R. e Barbieri, C. (Eds.) Direito e Interpretação. Racionalidades e Instituições. São Paulo: Saraiva, pp. 119-152.

STUCHINER, Noel; BRANDO, Marcelo Santini. (2014). Como os juízes decidem os casos difíceis do Direito? In: STRUCHINER, Noel e TAVARES, Rodrigo de Souza. (Orgs.) Novas fronteiras da teoria do direito: da filosofia moral aÌ€ psicologia experimental. Rio de Janeiro: PoD Editora, Editora PUC-Rio, 2014, pp. 171-219.

TVERSKY, Amos; KAHNEMAN, Daniel (1974), Judgments Under Uncertainty: Heuristics and Biases, Science 185 (4157): 1124-1131.

VOJVODIC, Adriana de Moraes; MACHADO, Ana Mara França; CARDOSO, Evorah Lusci Costa. (2009). Escrevendo um Romance, Primeiro Capítulo: Precedentes e Processo Decisório No STF. Revista Direito GV, São Paulo, n .5, vol. 1, pp. 21-55.

Downloads

Publicado

2016-11-28

Como Citar

Carvalho Leite, F., & Santini Brando, M. (2016). Dispersão de Fundamentos no Supremo Tribunal Federal / Scattered Arguments in Federal Supreme Court. Revista Direito, Estado E Sociedade, (48). https://doi.org/10.17808/des.48.738

Edição

Seção

Artigos