A presença dos refugiados do século XXI no Brasil: uma leitura da xenofobia a partir do discurso da crise econômica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17808/des.0.1493

Palavras-chave:

direitos humanos dos refugiados, crise econômica, xenofobia

Resumo

Resumo: o refúgio apresenta-se como uma forma de sobrevivência para uma parcela da população no período da globalização do século XXI, em detrimento das crises políticas, sociais e econômicas. Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo analisar se o discurso da crise econômica brasileira fomenta a xenofobia aos refugiados acolhidos pelo Brasil. Assim sendo, o artigo dividiu-se em duas etapas. Inicialmente, expôs-se o contexto migratório do século XXI, com a explanação do amparo legal internacional e nacional voltado para a questão do refúgio. Em seguida, evidenciou-se a possibilidade de o discurso da crise econômica ser fomentador da xenofobia. A pesquisa contou com metodologia do tipo bibliográfica, pura, de natureza qualitativa, com fins descritivos e exploratórios, mediante a análise legislativa e dos dados do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), bem como do Instituto Brasileiro de geografia (IBGE), dos quais foram resultados gráficos. Com isso, conclui-se que o discurso da "crise econômica" é um estimulador de condutas xenofóbicas, devendo tais comportamentos ser combatidos com eficiência para que, assim, sejam garantidos os direitos dos refugiados no Brasil.

Palavras-chave: direitos dos refugiados, crise econômica, xenofobia.

Abstract: Seeking asylum presents itself as a surviving strategy to a part of the population in the 21st century globalization period due to political, social and economic crisis. In this regard, this paper aims to analyze if the Brazilian economic crisis discourse stimulates xenophobia towards refugees sheltered in Brazil. Therefore, this article is divided into two stages. Initially, the migratory context in the 21st century is exposed, followed by and explanation of the international and national legal support regarding the refugee issue. Then, the possibility of the economic discourse as a xenophobia stimulator was pointed out. The research is based on a bibliographic methodology, pure, qualitative, descriptive and exploratory, using a legislative and data analysis of the National Refugee Committee. Thus, it is concluded that the economic crisis discourse does promote xenophobic practices, and those behaviors must be efficiently combated to there by guarantee human rights to refugees in Brazil.

Keywords: refugee law, economic crisis, xenophobia.

Biografia do Autor

Arnelle Rolim Peixoto, Professora do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI) da Universidade Federal do Ceará/UFC. Professora da Uninassau - Fortaleza

Pós-doutoranda em Direitos Sociais pela Universidade de Salamanca- Espanha. Pós- doutoranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Doutorado em Direitos pela Universidade de Salamanca- Espanha(2016) (Revalidado pela Universidade Federal do Pernambuco UFPE). Diploma de Estudos Avançados- DEA em Direitos Humanos pela Universidade de Salamanca-Espanha. Especialista em Políticas Públicas para a Igualdade em América Latina pela Flacso/Clacso. Especialista em Educação em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Ceará. Graduação em Direito pela Universidade de Fortaleza. Professora do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI-UFC-DIREITO). Professora da Uninassau - Fortaleza. Pesquisadora do Observatório das Nacionalidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Camilla Martins Cavalcanti, Universidade de Fortaleza(UNIFOR)

Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR).Graduada em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Membro do grupo de pesquisa Administração Pública e tributação no Brasil (UNIFOR) e do grupo de Estudo em Direitos e em Assuntos Internacionais (GEDAI) na Universidade Federal do Ceará/UFC.

Kananda Beatriz Pinto de Sena, Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia (ProPGeo/UECE). Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Vinculada ao Laboratório de Estudos Agrários, Urbanos e Populacionais (LEAUP) da UECE. Graduada em Geografia(Bacharelado) pela Universidade Estadual do Ceará.

Referências

AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS (ACNUR). Número de pessoas deslocadas no mundo chega a 70,8 milhões, diz ACNUR. Nações Unidas do Brasil - home page. 2019.

Disponível em: https://nacoesunidas.org/numero-de-pessoas-deslocadas-no-mundo-chega-a-708-milhoes-diz-acnur/ Acesso: 10 out. 2019.

ALCARAZ, Antonia Olmos. Alteridad, migraciones y racismo en redes sociales virtuales: un estudio de caso en Facebook. Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana -REMHU. Brasília, v.26, n. 53, p. 41-60, ago. 2018, https://doi.org/10.1590/1980-85852503880005304.

ALMEIDA, Guilherme de Assis. A Lei 9474/97 e a definição ampliada de refugiado: breves considerações. In: ALMEIDA, Guilherme de Assis; ARAUJO, Nadia (org). O direito internacional dos refugiados no Brasil: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p.155-168.

BAGGIO, Roberta Camineiro; NASCIMENTO, Daniel Braga. Do Estatuto do Estrangeiro à nova Lei de Migração no Brasil: breves apontamentos. In: MEJÍA, Margarita Rosa Gaviria (org). Migrações e direitos humanos: problemática socioambiental. Disponível em: http://www.abep.org.br/site/index.php/noticias/1050-publicacao-migracoes-e-direitos-humanos-problematica-socioambiental. Acesso em: 10 out 2018.

BIBLI-ASPA. Quem somos. Disponível em: <https://bibliaspa.org/quem-somos/>. Acesso em: 04 nov. 2019.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20 out. 2019.

______. Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Brasília, DF: Senado, 1997. Disponível em: http:/www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9474.htm. Acesso em: 10 out. 2018.

______. Lei nº 13.445/17, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Imigração. Brasília, DF: Senado, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13445.htm. Acesso em: 10 out. 2018.

CAVALCANTI, Leonardo; OLIVEIRA, Tadeu; MACEDO, Marília (org.). Imigração e Refúgio no Brasil. Relatório Anual 2019. Série Migrações. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério da Justiça e Segurança Pública: Conselho Nacional de Imigração e Coordenação Geral de Imigração Laboral: Brasília, 2019.

CEREIJIDO, Fanny Blanck. O olhar sobre o estrangeiro. Ide Psicanálise e Cultura, São Paulo, v. 31, n. 47, p. 61-65, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062008000200010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 04 nov. 2019.

COSTA, Érica Nadir Monteiro de Vasconcelos; PEIXOTO, Arnelle Rolim. O processo de integração dos refugiados através da educação: um estudo de caso na cidade de Fortaleza. In: ANNONI, Danielle (coord.). Direito Internacional dos Refugiados e o Brasil. Curitiba: Gedai/UFPR, 2018, p. 517-535.

COSTA, Nayara Belle Nova da. Migrações Internacionais e Refúgio no Brasil entre 2000 e 2014: uma análise espaço-temporal. 2016. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Geografia, Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/22527. Acesso em: 28 out. 2019.

D`ANCONA, Maria A. Cea. La exteriorización de la xenofobia. Revista Española de Investigaciones Sociológicas-REIS, Madrid, n. 112, 2005 pp. 197-230. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=1958514. Acesso em: 04 nov. 2019.

FARAH, Paulo Daniel. Combates à xenofobia, ao racismo e à intolerância. Revista USP, São Paulo, n. 114, 2017, pp. 11-30. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/index. Acesso em: 04 nov. 2019.

FRANÇA, Rômulo Ataides; RAMOS, Wilsa Maria; MONTAGNER, Maria Inez. Mapeamento de políticas públicas para os refugiados no Brasil. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 19, 2019. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/43008/29657. Acesso em: 04 nov. 2019.

GABORIT, Mauricio. La construcción social de la persona migrante como enemigo. In: GARCÍA, Carlos Sandoval (edit). Puentes, no muros. Contribuiciones para una política progresista en migraciones. Buenos Aires: Clacso, 2020, p.1-24.

GALLEGOS, Jacques Ramírez. De la era de la migración al siglo de la seguridad: el surgimento de "políticas de control con rostro (in)humano". Revista Latinoamericana de Estudos de Seguridad-URVIO, Quito, n.23, pp. 10-28, 2018, http://dx.doi.org/10.17141/urvio.23.2018.3745

GÁLVEZ, Javier Álvarez. Inmigración e imágenes mediáticas: análisis cualitativo de la autopercepción de los inmigrantes. Revista Mediaciones Sociales, Madrid, n.6, 2010, pp. 93 -119. Disponível em: https://revistas.ucm.es/index.php/MESO/article/view/MESO1010120093A . Acesso em: 02 nov. 2019.

HAASVISTO, Richard. Afrontar las causas radicales de la xenofobia. Valorando la diferencia. Servicio Jesuita a Refugiados -JRS, Italia, n. 45, dic 2008, p. 1-12. Disponível em: https://jrsea.org/assets/Publications/File/serv45es.pdf. Acesso em: 05 abr. 2020

HOBBES, Thomas. Leviatã. Tradução: João Paulo Monterio e Maria B. Nizza da Silva. 2. ed. São Paulo: Abril, 2000.

KISSINGER, Henry. Ordem mundial. Tradução Cláudio Figueiredo. Rio de Janeiro: objetiva, 2015.

LEVY, Jaques. Os novos espaços da mobilidade. Geographia, Rio de Janeiro, v. 3, n.6., 2001.

LIMA, João Brígido Bezerra et al. Refúgio no Brasil: caracterização dos perfis sociodemográficos dos refugiados (1998-2014). Brasília: IPEA, 2017.

LUIZ, Caio. Além da fome, venezuelanos enfrentam xenofobia. Jornal Destak. 2019. https://www.destakjornal.com.br/mundo/detalhe/alem-da-fome-venezuelanos-enfrentam-xenofobia. Acesso: 28 out. 2019.

MARTÍNEZ, Laura Bustos et al. Discursos de odio: una epidemia que se propaga en la red. Estado de la cuestión sobre el racismo y la xenofobia en las redes sociales. Mediciones Sociales, Madrid, v. 18, p. 25-42, 2019, https://doi.org/10.5209/meso.64527

MILESI, Rosita. Por uma nova Lei de Migrações: a perspectiva dos direitos humanos. In: GODINHO, Luiz Fernando; FREIRE JÚNIOR, Newton (coord.). Refúgio, Migrações e Cidadania: Caderno De Debates 2. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2018/02/Caderno-de-Debates-02_Ref%C3%BAgio-Migra%C3%A7%C3%B5es-e-Cidadania.pdf. Acesso em: 04 nov. 2019.

MURILLO, Juan Carlos. Os legítimos interesses de segurança dos Estados e a proteção internacional de refugiados. Sur, Rev. Int. Direitos Human. [s.l.], v. 6, n. 10, p.120-137, jun. 2009. Semanal. FapUNIFESP (SciELO), https://doi.org/10.1590/S1806-64452009000100007.

PITA, Agni Castro. Direitos Humanos e Direito Internacional dos refugiados. In: GEDIEL, José Antônio Peres; GODOY, Gabriel Gualano de (org.). Refúgio e hospitalidade. Curitiba: Kairós Edições, 2016.

PIZARRO, Jorge Martínez; FINARDI, Leandro Reboiras; CONTRUCCI, Magdalena Soffia. Los derechos concedidos: crisis econômica mundial y migración mundial. CEPAL: Santiago de Chile, 2009. Disponível em: https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/7231/1/S0900836_es.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020

PRONI, Marcelo Weishaupt; PRONI, Thaís Tamarindo da Rocha Weishaupt. O papel civilizatório dos direitos humanos: diálogo com Bobbio e Elias. Direito, Estado e Sociedade, Rio de Janeiro, n.51, p. 161-194, jul/dez 2017, https://doi.org/10.17808/des.51.921.

RODRIGUES, G. M. A; SALA, J. B; SIQUEIRA, D. C. Refugiados Sírios no Brasil. Políticas de proteção e integração. BAENINGER, Rosana et al (org.). Migrações Sul-Sul. 2. ed. Campinas: Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" - Nepo/Unicamp, 2018. p. 309-324.

SARAIVA, Adriana. Desemprego fica em 11,8%, com recorde no emprego sem carteira. Portal Agência IBGE Notícias, 31 out. 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/25815-desemprego-fica-em-11-8-com-recorde-no-emprego-sem-carteira. Acesso: 29 out. 2019.

SERRICELLA, Giulianna Silva. Globalização e Refúgio: os refugiados congoleses na cidade do Rio de Janeiro como exemplo dessa relação complexa. Dissertação (Mestrado em Geografia) -Departamento de Geografia e Meio Ambiente, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,2016.

SIMÕES, Bárbara Bruna de Oliveira; RUDNICKI, Dani; COSTANZA, Graziele Silva; MARTINI, Sandra Regina. Migrações: fraternidade e xenofobia na sociedade cosmopolita. Revista Em Tempo, v. 17, 2018, p. 248 - 269. Disponível em: https://revista.univem.edu.br/emtempo/article/view/2616. Acesso em: 04 nov. 2019.

VILLA, Hernando Valencia. Diccionario Derechos Humanos. Madrid: Esparsa, 2003.

Downloads

Publicado

2021-03-24

Como Citar

Rolim Peixoto, A., Martins Cavalcanti, C., & Pinto de Sena, K. B. (2021). A presença dos refugiados do século XXI no Brasil: uma leitura da xenofobia a partir do discurso da crise econômica. Revista Direito, Estado E Sociedade. https://doi.org/10.17808/des.0.1493

Edição

Seção

Artigos