Autoritarismo e Racismo: Oliveira Vianna, Constituição e Democracia sob os Trópicos

Autores

  • Evandro Piza Duarte Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.17808/des.61.1378

Palavras-chave:

Constitucionalismo Periférico, Idealismo da Constituição, Direitos Fundamentais, Negros e Indígenas, Colonialidade do Saber, Estado-Novo,

Resumo

Resumo: o artigo analisa os argumentos de Oliveira Vianna, representante do "autoritarismo político" brasileiro, sobre o conflito entre a Constituição Ideal e a Constituição Real, destacando a relevância do racismo científico na crítica dirigida ao Idealismo da Constituição. A "disjunção" (ideal/real) é analisada com auxílio das categorias de Jürgen Habermas de procedimentalismo e substancialismo para explicitar as dimensões da colonialidade na teoria constitucional europeia. Argumenta-se que essa disjunção reconstrói a distinção entre povo (elites de poder qualificadas) e plebe (plebe/massa amorfa), fundamentada na compreensão racista da história, convergindo para a defesa do Estado como agente da hegemonia branca e na representação do papel perigoso da ideia democrática de participação popular, negra/indígena. Logo, ao invés de ser apenas um modo de compreender os problemas do constitucionalismo brasileiro, deve ser objeto de investigações como artefato da história das elites locais e considerada como parte integrante do problema que pretende resolver.

Palavras-chave: constitucionalismo periférico, idealismo da Constituição, direitos fundamentais; negros e indígenas; colonialidade do saber, Estado-Novo.

Abstract: In this paper, we analyze Oliveira Vianna's arguments, as representative of the Brazilian "political authoritarianism", about the conflict between the Ideal Constitution and the Real Constitution, highlighting the relevance of scientific racism to the criticism towards the Constitution's Idealism. The "disjunction" (ideal/real) is analyzed with the support of Jürgen Habermas' categories of proceduralism and substantialism, aiming to unveil the dimensions of coloniality within the European constitutional theory. Our thesis is that this disjunction reconstructs the distinction between people (qualified power elites) and people (plebe/amorphous mass), based on a racist understanding of history, converging to the defense of the State as an agent of white hegemony and to the representation of the dangerous role attributed to the democratic idea of popular participation, black/indigenous. Therefore, instead of being only one way to understand the problems of Brazilian constitutionalism, it must be the object of investigations as an artifact of local elites' history and considered as an integral part of the problem it intends to solve.

Keywords: peripheral constitutionalism, Constitution's idealism, fundamental rights; black/indigenous people, coloniality of knowledge; New State.

Biografia do Autor

Evandro Piza Duarte, Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

Doutorado em Direito pela Universidade Nacional de Brasília (UnB), Mestrado em Direito pela UFSC (1998) e Graduação em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (1993).

Referências

ABREU, Luciano Aronne. Dossiê temático: Estado Novo, Realismo e Autoritarismo Político. Política e Sociedade, vol.7, nº 12, 2008, pp. 49-66. https://doi.org/10.5007/2175-7984.2008v7n12p49.

ALENCASTRO, Luiz Felipe. O Trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo, 2000.

______. (2010). Parecer sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ADPF, nº 186, apresentada ao Supremo Tribunal Federal.

AZEVÊDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites do século XIX. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

BUCK-MORSS, Susan. Hegel, Haiti, and universal history. University of Pittsburgh Pre, 2009. https://doi.org/10.2307/j.ctt7zwbgz.

CAMPOS, Francisco. O Estado Nacional: sua estrutura, seu conteúdo ideológico. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001.

CARVALHO, José Murilo de. A Utopia de Oliveira Vianna. Revista Estudos Históricos, vol. 4, n. 7, 1991, CPDOC, FVG.

CARVALHO NETTO, Menelick de. A sanção no procedimento legislativo. Del Rey, 1993.

CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abrano, 2000.

COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: UNESP, 1999.

DUARTE, Evandro Piza; FREITAS, Felipe da Silva. Racism and Drug Policy: Criminal Control and the Management of Black Bodies by the Brazilian State. In: KORAM, Kojo. The War on Drugs and the global colour line. Pluto, 2019. https://doi.org/10.2307/j.ctvdmwxn7.7.

DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro; a origem do Mito da modernidade; conferências de Frankfurt. Vozes, 1993.

FAORO, Raymundo. Existe um Pensamento Político Brasileiro? São Paulo: Ática, 1994.

______. Os donos do poder. Rio de Janeiro: Globo, v.1, 1989.

LASSALE, Ferdinand. O que é uma Constituição. Belo Horizonte: Ed. Líder, 2003;

LUHMANN, Niklas. Causalidade no sul. Trad. de Menelick de Carvalho Netto (para fins acadêmicos). Revista de Teoria Sociológica. Universidade de Bielefeld, Alemanha, s/d, 1995.

HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002.

HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991.

KEMNITZ, Eva-Maria von. Em Portugal-O Orientalismo em fragmentos. Revista de estudios internacionales mediterráneos, 2016.

MOURA, Clóvis. As injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990, p. 197.

MORSE, Richard M. O espelho de Próspero: cultura e idéias nas Américas. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

ODALLA, Marcos. Civilización y barbarie. La función de los intelectuales en la Argentina del Centenario: J. Ingenieros y R. Rojas. Estudios de Filosofía Práctica e Historia de las Ideas. Revista anual de la Unidad de Historiografía e Historia de las Ideas/INCIHUSA - CONICET, Mendoza, vol.11, nº 2, diciembre 2009, p. 43-54.

PAIM, Antônio. Curso de Introdução ao Pensamento Político Brasileiro. A Opção Totalitária. Unidade XI e XII. Brasília: Universidade de Brasília, 1982.

______. Introdução. In: VIANNA, Oliveira. Populações Meridionais do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 18-45.

______. Oliveira Viana e o Pensamento Autoritário no Brasil. In: VIANNA, Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras. vol. I. Brasília: Senado Federal, 1999, pp. 11-37.

PAIVA, Vanilda. Oliveira Vianna: Nacionalismo ou Racismo? Síntese: Revista de Filosofia, 1976, vol. 3, n. 6, pp. 57-84.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e Classificação social. Epistemologias do Sul, 2009.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Editora Companhia das Letras, 2007.

SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SIEYÉS, Emmanuel Joseph. A Constituinte Burguesa. Qu`est-ce que le Tiers État? Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001.

SILVA, Ricardo. Liberalismo e democracia na sociologia política de Oliveira Vianna. Sociologias, Porto Alegre, ano 10, nº 20, jul./dez. 2008, pp. 238-269. https://doi.org/10.1590/s1517-45222008000200011.

VIANNA, Oliveira. O Idealismo da Constituição. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1939.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Criminología: aproximación desde un margen. Bogotá, Colômbia: Temis, 1993

Downloads

Publicado

2022-12-30

Como Citar

Piza Duarte, E. (2022). Autoritarismo e Racismo: Oliveira Vianna, Constituição e Democracia sob os Trópicos. Revista Direito, Estado E Sociedade, (61). https://doi.org/10.17808/des.61.1378

Edição

Seção

Artigos